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Dívidas: vivendo além das possibilidades

  • Foto do escritor: Mirella Mariani
    Mirella Mariani
  • 29 de abr. de 2024
  • 5 min de leitura
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Uma variedade de questões podem causar as dificuldades financeiras. Alguns eventos podem ser o resultado de acontecimentos dispendiosos da vida e certamente são bons exemplos disso: a chegada dos filhos, a mudança para uma nova casa, a má gestão do dinheiro ou mesmo e até principalmente o não cumprimento de pagamentos. Mas além destes motivos não podemos descartar as questões de saúde mental, visto que existem patologias em que o consumo ou investimentos ocasionados de modo impulsivo ou sem previsibilidade de retorno, comprometem o orçamento.


O estresse financeiro têm suas raízes na relação com o dinheiro, sendo esse um fenômeno complexo e multifacetado que pode desencadear uma série de respostas comportamentais e situações que merecem atenção. De acordo com o levantamento do SERASA EXPERIAN 71,1 milhões de brasileiros estão inadimplentes e as suas dívidas se concentram principalmente: em cartão de crédito a vencer, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e da casa.  (Fonte: Serasa, 2023).


Existem ainda fatores que são apenas resultado do nosso cotidiano e de situações que muitos enfrentamos e que dificultam a manutenção de um orçamento organizado, economia de dinheiro para que seja possível planejar e cumprir com os pagamentos e não endividamento. Avalie alguns de seus hábitos, pois eles são armadilhas por vezes imperceptíveis, que resultam em problemas futuros.


Analise se costuma:

  • Misturar suas finanças pessoais com as da sua empresa;

  • Fracassar nos negócios ou no emprego;

  • Planejar o orçamento de acordo com seus rendimentos;

  • Fazer reserva financeira;

  • Ter despesas e acontecimentos inesperados;

  • Sofrer pressões sociais (comprar, alugar, viajar, reformar);

  • Ter expectativas acima da sua condição financeira;

  • Buscar educação financeira;


Quando as questões são relacionadas à Saúde Mental, é possível considerar o endividamento como um efeito tautológico, o que quer dizer a proposição é verdadeira para todas as possíveis valorações de suas variáveis propostas.


Pessoas com dívidas têm maior probabilidade de enfrentar problemas comuns de saúde mental, ou Indivíduos que lutam com problemas de saúde mental têm maior probabilidade de ter problemas para administrar suas finanças. Bons exemplos: resolvem fazer apostas visando ganhos imediatos, podem fazer investimentos financeiros arriscados, ou mesmo retirar dinheiro das suas contas para comprar itens não essenciais.


Quando, por exemplo, as emoções são intensas, a pessoa busca diversas formas de escapar de situações desconfortáveis evitando a autoconsciência dolorosa. Deste modo, os comportamentos como apostar ou se tornam a principal forma de a pessoa lidar com o estresse aliviando o desconforto.


Outro dado interessante: no Brasil 12% da população, pratica regularmente os jogos de azar e, em geral, 2% desenvolve problemas com o jogo, sendo que do total, 1% preenche critérios para Transtorno do Jogo ao longo da vida. (Fonte: Tavares, 2014). Mais atual e preocupante, porém é prevalência de 57,1% encontrada de prováveis apostadores com transtorno do jogo entre aqueles que realizam apostas esportivas no Brasil, uma média maior que os 44,3% encontrada na literatura para apostadores na população mundial (Fonte: Santos, 2019).


O surpreendente para alguns são os investimentos de curto prazo. Outra pesquisa conduzida na FGV-SP avaliou 98 mil daytrades ao longo de cinco anos e verificou que apenas 127 deles conseguiu lucro médio de 100 reais, por mais de 300 pregões de negociação, um total de 0,15% de pessoas com lucro em curtíssimo prazo, o que sugere não haver aprendizado neste tipo de comportamento. Vale ressaltar que este comportamento é muito semelhante aos demais, pois são empenhados valores financeiros na previsão de um evento futuro, para o qual o resultado não depende da ação de quem apostou/investiu (Fonte: Chague & Giovannetti, 2020).


Ao avaliar as estimativas relacionadas ao comportamento de consumo, pesquisas mundiais indicam a prevalência variando entre 1,1% a 5,9% para oniomaníacos na população geral e no Brasil o valor é de cerca de 5% para a população geral.  A pesquisa inédita “E-commerce Trends 2024”, indicou que 62% dos consumidores realizam de duas a cinco compras online por mês, enquanto 85% dos brasileiros fazem pelo menos uma compra por mês na internet.


É possível ainda entender o perfil de preferências dos entrevistados: 63% prefere fazer compras em lojas virtuais, 60% consumem em marketplaces e 49% preferem aplicativos da própria marca. O que ajuda a entender o comportamento aditivo e os pensamentos disfuncionais de prováveis compradores compulsivos foi que: 58% dos participantes relatou que consumir online ajuda a conseguir preços mais baixos quando comparado às lojas físicas, 57% comentou sobre a praticidade de comprar sem sair de casa e 56% gosta das promoções que só existem online (Fonte: Forbes).


Em resumo as principais consequências do endividamento são:

1.     Dificuldades nos relacionamentos: questões financeiras podem desgastar relacionamentos interpessoais em todos os âmbitos gerando conflitos.

2.     Problemas na tomada de decisões: prejuízos na capacidade de discernir ao tomar decisões, quando existem preocupações financeiras, ocorrem em consequência à sobrecarga da área responsável em nosso cérebro, pela avaliação e tomada de decisões, tornando mais difícil a resolução de problemas.

3.     Impactos na saúde mental e física: o estresse financeiro crônico pode desencadear ou agravar além de ansiedade, depressão, insônia, hipertensão e doenças cardíacas, questões relacionadas à impulsividade e compulsão.

4.     Estigma do endividamento: decisões erradas e hábitos de consumo imprudentes colaboram para o inevitável endividamento, mas, além disso, contribuem para a diminuição da oferta de crédito e credibilidade.

 

E afinal como lidar com as dívidas, sejam elas de qualquer origem?

A dica mais importante para resolver qualquer situação problema é: “Começar sempre por o que for mais fácil e de solução com consequência motivadora!”. Deste modo, você irá se sentir competente para seguir para o próximo passo. Siga se organizando principalmente:


1.    Coloque um plano em prática, sempre iniciando das ações mais simples para as mais complexas;

2.    Esteja ciente de suas emoções e da situação que provocou o endividamento;

3.   Peça suporte e busque ajuda profissional: consulte um profissional de psicologia e/ou de finanças;

4.   Pratique técnicas de gerenciamento de estresse (respiração diafragmática ou quadrática, mindfulness);

5.   Invista em educação financeira;

6.  Separe as entradas e despesas, anote tudo aquilo que é essencial, de modo organizado e em um único canal (aplicativo, Excel, caderno);

  • É preciso que você tenha anotado TODOS os gastos realizados;

  • Avalie com cuidado quais são as despesas essenciais (aluguel, água, luz, alimentação);

  • Verifique os que podem ser evitados (comer fora, ir ao cinema, canais de TV a cabo, aplicativos no celular);

  • Pense bem se existem custos que são opcionais;

  • Renegocie as dívidas (com empresas, bancos e credores);

  • Realize os pagamentos prioritários (aluguel e das contas de serviços públicos);  

Concluindo...

 

Mude sua mentalidade. É claro que não está fácil para ninguém e que o mundo oferece muitas oportunidades. Se de um lado você pensa que sua chance está vinculada a um gasto acima das suas possibilidades, seja ele pessoal ou empresarial, avalie se isso já aconteceu antes.


Sua resposta pode ser positiva e neste caso não estou escrevendo para um endividado, mas para alguém que se interessa pelo tema.


Agora se a sua resposta foi, talvez ou negativa, algumas reflexões do texto podem fazer muito sentido. A sugestão neste caso é que pense em quantas situações em sua história de vida, se viu enroscado por causa de dinheiro, e não importando o motivo, você entrou em um ciclo de empréstimos, dívidas, brigas, falência e doenças.


Caso ainda assim queira insistir, não deixe de fazer um bom planejamento estratégico e financeiro é peremptório que tenha pessoas responsáveis e de confiança ao seu lado, pois elas dirão o que você não quer ouvir, ela serão seu freio do sistema límbico, mas certamente irão garantir que consiga evitar um novo endividamento.


Psicóloga Mirella MC Mariani

 

Referências:

 

 

 

1 comentário


Sergei Silva
Sergei Silva
29 de abr. de 2024

Excelente artigo! Vivenciei uma experiência bem impactante em minha vida que está muito bem demonstrada aqui. Recomendo a leitura e a incrível profissional!

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Psicóloga Mirella Martins de Castro Mariani

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©2023 por Psicóloga Mirella Martins de Castro Mariani 

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