Apostas esportivas: exposição precoce e fatores predisponentes à dependência
- Mirella Mariani

- 9 de jul. de 2024
- 11 min de leitura
Atualizado: 10 de jul. de 2024

Pais, educadores e profissionais de saúde vêm observando a crescente exposição dos jovens aos estímulos recorrentes relacionados aos jogos de azar. Propagandas na televisão, o patrocínio dos times de futebol, celebridades convidando para experiências e garantindo sucesso com apostas, são extremamente comuns diariamente, chamando a atenção deste público.
Se para quem convive com os adolescentes ou jovens adultos parece que eles tomam decisões emocionais e acabam se envolvendo em comportamentos de risco, há uma razão para isso: tudo faz parte do desenvolvimento do cérebro.
E por falar em comportamento de risco, é muito importante lembrar que, o jogo de azar é uma atividade que se enquadra nesta categoria, vale ressaltar que apenas alguns tipos de jogos são liberados no Brasil e principalmente que “nenhuma aposta”, permitida ou não é indicada para menores de idade.
Afinal o que é Jogo de azar?
É necessário entender que, por definição Jogo de Azar (JA) envolve realizar apostas, o que significa empenhar um bem ou valor financeiro na previsão de um evento futuro, para o qual o resultado não depende da ação de quem apostou. Isso quer dizer que, alguém que faz escolhas baseadas em eventos aleatórios (jogo de Futebol, chutes a gol, diferença de cestas numa partida de Basquete, placar do Voleibol de praia) e investe um valor com a expectativa de receber algum retorno neste evento, está fazendo uma aposta!
Atualmente no Brasil, as corridas de cavalo e as loterias operam legalmente, enquanto cassinos online e apostas esportivas operam em sites hospedados fora do país. A exploração destes jogos é proibida para empresas sediadas no Brasil, mas, os jogadores brasileiros participam em plataformas estrangeiras que operam fora do país, o que ainda é um tema polêmico e em constante evolução jurisprudencial. Já o pôquer, considerado um “esporte da mente”, é legal e pode ser disputado em clubes ou torneios, mesmo com a controvérsia de seguir os mesmos paradigmas do JA. Os “caça-níqueis” eletrônicos, introduzidos no país nos anos 90, seguem em operação em casas clandestinas, assim como o Bingo e outros jogos de cassino e todos aguardam a aprovação, que está atualmente em trâmite no senado federal.
Vamos entender melhor qual a questão do envolvimento de jovens com as apostas?

Figura da maturação cerebral em adolescentes
Partindo do princípio que os jovens são curiosos e tem acesso às informações: em redes de busca, se comunicando com seus pares, ou mesmo recebendo mensagens, é muito provável que a combinação: maturação cerebral x jogos de azar x excesso de exposição os deixem em maus lençóis.
O amadurecimento do nosso cérebro não se dá exatamente como a maturação de outros órgãos do corpo. Logo ao nascimento estômago e coração, por exemplo, estão completamente prontos para realizar suas funções fisiológicas, interagindo com o sistema endócrino. A maturação do cérebro ocorre da região da cervical para a frontal.
O Córtex pré-frontal, região mais evoluída do nosso cérebro, é responsável pela nossa regulação emocional e começa a amadurecer a partir dos 03 a 04 anos de idade e ainda na infância todos os blocos de construção cerebral já estão presentes. A Amígdala parte do sistema de gratificação, por exemplo, estrutura cerebral relacionada aos comportamentos impulsivos, se desenvolve entre os 09 e 11 anos, sendo responsável por identificar e processar informações emocionalmente importantes ou motivacionalmente relevantes.
Além disso, ela promove a verificação continua do ambiente avaliando a segurança. Quando esta é percebida, o restante do cérebro pode se concentrar no aprendizado e na memória. Caso uma ameaça ocorra, esta estrutura se comunica com o córtex pré-frontal, seção de processamento de nível superior do cérebro, que começa a se desenvolver, em geral entre os 15 e os 20 anos de idade. Porém, esse desenvolvimento e remodelação continuam no período da adolescência e a maturidade cerebral só vai ocorrer por volta dos 25 anos.
Segurança x riscos: influências
Estudos em neurociência cognitiva do desenvolvimento indicam que os jovens se sentem mais confortáveis do que os adultos em aceitar ofertas quando as probabilidades são desconhecidas, por isso o controle de seus responsáveis é necessário. Quando os riscos incluem conhecer novas pessoas, tentar novas atividades como um trabalho voluntário, iniciar um esporte ou enfrentar seus medos para aprender mais sobre si mesmos, se arriscar permanece no âmbito da descoberta saudável, ocorre uma ampliação do repertório de enfrentamento.
Eles até reconhecem os danos potenciais ou consequências dos seus comportamentos, mas são menos sensíveis as potenciais consequências ou minimizam seu impacto. É neste momento que uma comunicação assertiva e a orientação para regras sociais, o reconhecimento das emoções e limites são fundamentais. Em geral, quando isso falha o resultado é que acabam se envolvendo mais em atividades de risco, como jogos de azar.
Não devemos esquecer que embora seja este um processo natural e necessário, o mesmo os deixa particularmente suscetíveis a desenvolver problemas. É, justamente, neste momento em que a mídia e os colegas têm uma influência crescente, não devendo ser subestimados, já que podem enganá-los e estimulá-los a se envolver em comportamentos de risco. Outro fator relevante é o das redes sociais e dos fóruns online, nos quais a influência dos pares e de mensagens enviadas nestas redes não pode ser subestimada.
Que tipo de processo faz isso acontecer?
Quando um adulto emite um comportamento, ele serve de modelo para o jovem que está ao seu lado. Isso ocorre em todas as fases do desenvolvimento e tem grande importância desde a primeira infância até a adolescência. Pais, familiares, professores, amigos e os relacionamentos mais significativos, como cuidadores, interferem e contribuem para o repertório comportamental. Tecnicamente são dois processos que ocorrem para aquisição de estratégias, o de Modelação e o de Modelagem.
Modelação: estratégia focada na aquisição de comportamentos por meio da observação e duplicação de comportamentos feitos por outra pessoa (ou organismo). Exemplo: Uma jovem que briga com os colegas de classe e fala palavrões, de modo geral observou em algum ambiente este tipo de comportamento e o reproduz.
Modelagem: ocorre por meio de aproximações sucessivas de reforços para o comportamento alvo, sendo elas feitas de modo gradual, até que a emissão da resposta seja cada vez mais próxima do comportamento desejado. Exemplo: Um rapaz que faz apostas esportivas online viu este tipo de jogo e está repetindo a ação, pois um tio contou que ganhou mil reais na sua primeira vez no aplicativo.
E por falar em jogos com apostas...
Os adolescentes e jovens adultos que jogam têm mais risco de desenvolver problemas relacionados ao jogo, cerca de duas vezes maior que os adultos. Isso se deve ao processo de maturação cerebral. Como seus cérebros estão acelerados de excitação, também está seu desejo de participar das atividades. Se ficarem entusiasmados com um determinado jogo, jogarão com mais frequência.
Esse é o X da questão! Eles passam a desenvolver problemas com o jogo de azar e como consequência a ter mais problemas com dinheiro. Além disso, outros sinais óbvios são frequentes, como: dificuldades escolares, queda repentina das notas, problemas nos relacionamentos interpessoais (família e amigos), problemas para manter o emprego, questões de saúde mental como prejuízos com o sono, ansiedade e depressão e até mesmo a possibilidade de considerar ou a tentativa de suicídio.
Sinais de alerta
Algumas consequências acima citadas são bastante graves, mas alguns fatores indicam que algo errado pode estar ocorrendo e antes mesmo que a situação fique muito ruim é importante ficar atento à prática de jogos de azar, visto que a classificação de quem faz apostas varia de fases recreativas até a dependência (efeito telescópio) podendo ser classificadas como (Tavares, H; 2003):
Jogo social: o sujeito joga ocasional ou frequentemente, porém sem sofrer consequências adversas de seu comportamento.
Jogo problema: o apostador joga com frequência e certas vezes, acaba experimentando a perda de controle e prejuízos psicossociais, porém não ao ponto de preencher os critérios diagnósticos para o transtorno do jogo.
Transtorno do jogo: o jogador realiza apostas regularmente e como resultado ocorre à perda de controle na maioria das vezes em que o faz e todos os prejuízos decorrentes deste envolvimento.
Da mesma maneira como ocorre com outras dependências, visto que o Transtorno do Jogo está alocado no Manual Diagnóstico de Psiquiatria DSM5-TR como uma Dependência, observa-se que os jovens que lutam contra o TJ. Ficam agitados e com raiva, se afastam das atividades familiares e de seus amigos, tem dificuldade para se concentrar em suas responsabilidades, começam a precisar de quantias cada vez maiores de dinheiro para cobrir suas despesas, além de mentir sobre seu envolvimento com as apostas. Neste momento a preocupação com o jogo passa a ser constante e começam a jogar para recuperar o prejuízo. Em casos graves, aumenta a possibilidade de que se envolvam em atividades ilícitas (retirando dinheiro da carteira ou conta dos pais ou mesmo vendendo objetos da família).
E o que dizem as pesquisas?
Diversas pesquisas realizadas com adolescentes e jovens adultos na faixa entre 15 e 30 anos, em países em que o jogo é liberado, revelam dados bastante interessantes. Os resultados se concentram em questões sociodemográficas (idade, gênero, renda, educação), bem como nos hábitos, consequências do comportamento, saúde e legislação.
Resumindo...
O Conselho de Nova York sobre Jogo Problemático aponta que entre 20% e 40% dos jovens jogam (OASAS, 2015 e 2022) (Winters e Derevensky, 2019 ).
94% dos indivíduos que lutam contra os danos do jogo terão pelo menos um transtorno mental ou dependência concomitante (Pricel et al., 2021).
Na Espanha devido à legalização do jogo online e ao aumento constante da sua publicidade, ocorreu mudança no perfil dos jogadores, com preferência por apostas esportivas online e outras apostas por meio de dispositivos ligados à Internet e apostadores também contraem dívidas. (Aragay; et al., 2021)
Comparados jogadores que realizam apostas presenciais em máquinas de caça-níquel, online nas máquinas ou esportivas online, observa-se que são mais jovens os que fazem apostas esportivas são mais jovens, com escolaridade universitária e maior gasto semanal (Mestre-Bach; et al., 2022)
Na população de adolescentes norteamericanos com problemas em apostas esportivas verificou-se que estes podem se beneficiar de abordagens terapêuticas personalizadas, pois são mais graves (Marchica; et al., 2017)
22 milhões, ou seja, 14% dos brasileiros fizeram aposta online em 2023, isso quer dizer sete vezes o índice dos que investiram em ações, Tesouro Direto ou previdência (Pesquisa AMBIMA).
Nos Estados Unidos e Canadá em 2015, 56,8 milhões de indivíduos realizaram apostas esportivas, embora homens fossem mais frequentes as mulheres que correram maior risco e estudantes de 16 e os 19 anos risco mais elevado de desenvolver problemas, quando comparados com os adolescentes mais jovens (2015).
Os fatores mais atrativos aos consumidores norte-americanos para praticarem apostas esportivas são principalmente: 45% deles refere que o esporte fica mais interessante, 38% pareamento do esporte com as apostas esportivas, 34% gosta de competir, 29% aprecia a emoção das apostas, 15% se sente bem ao lidar com riscos (Kindbridge).
A receita de apostas esportivas nos EUA aumentou de US$ 431 milhões em 2018 para US$ 1,550 bilhão em 2021, e grande parte disso foi gerada por apostas esportivas online (Statista, 2023).
Revisão realizada pelo Conselho Nacional de Jogos Problemáticos sobre a relação entre apostas esportivas e dependência em jogos de azar, concluiu que: a taxa de problemas de jogo nos apostadores esportivos é pelo menos duas vezes mais elevada do que entre os jogadores em geral; 45% das apostas desportivas agora são feitas online, ou seja, os jogos de azar online estão disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana (NCPG).
Mas o que fazer diante deste cenário?
É importantíssimo ressaltar que no cerne das apostas esportivas está a emoção da incerteza. É a adrenalina de fazer uma aposta, a antecipação da vitória, como consequência, o mal estar causado pelas derrotas que faz com que o apostador volte para recuperar. O que impulsiona esse desejo insaciável pelo risco são os chamados gatilhos cognitivos que influenciam as nossas decisões de apostar.
Ao lembrar que risco e adolescência caminham juntos, jamais seria a terceira ponta deste triângulo, a aposta esportiva, uma opção segura.
Ao superestimar seus conhecimentos sobre esportes, ou ignorar informações contraditórias e sucumbir à “falácia do jogador” (crença equivocada de que acontecimentos passados influenciam resultados futuros), não apenas o julgamento, como também a definição das estratégias de apostas estarão comprometidas.
E como prevenir este problema?
Para a população em geral, ou seja, para os maiores de 18 anos, existem algumas maneiras, que transitam em um continuum que partem da prevenção e terminam na promoção da saúde para os jogadores problema e portadores de Transtorno do Jogo.
Mudanças da mentalidade da população e legisladores são fundamentais, dirigindo foco maior nos prejuízos que são causados pelo comportamento de apostar, com acompanhamento eficaz da noção do jogo de azar como um problema de saúde pública, além de é claro, reconhecer a influência dos produtos e do ambiente como influências do comportamento dos apostadores.
Sugestões possíveis...
Como em outros países nos quais a oferta de jogos de azar é bem maior, a partir da legislação regulamentando as apostas, sugere-se à criação de uma Comissão Nacional de Jogos de Azar. Comissão esta, formada por uma ampla gama de especialistas com experiência, organizações (Jogadores Anônimos), indústria e comunidade. Seu objetivo seria avaliar os novos produtos, realizar ou contratar pesquisas que sustentem as estratégias já existentes, propor tratamentos pautados na população brasileira, além de promover debates e interações internacionais.
Estabelecer uma estrutura coerente, na qual a prioridade seja a abordagem com foco na prevenção e intervenções feitas em uma variedade de níveis diferentes, consistentes com a filosofia de saúde pública e particularmente fora do acesso da indústria dos jogos de azar.
Estabelecer taxa obrigatória para a indústria do Jogo, visando arrecadar financiamento estável e previsível para as estratégias de: prevenção eficaz e coordenada, promoção de campanhas de educação, recursos para os programas de pesquisas, suporte em 0800, criação de aplicativo de rastreio de potenciais portadores de transtorno do jogo e site para orientações e da Comissão Nacional de Jogos de Azar.
E finalmente dedicar tempo para medidas preventivas com foco nos adolescentes e jovens adultos, mais vulneráveis ao risco, que variam desde o cuidado atento de responsáveis até estratégias legais, de proibição para menores de 18 anos com rigor e cobrança de documento, aos cuidados de exposição, acima sugeridos para o Jogo Responsável. Na outra extremidade, a promoção de pesquisas e tratamento para os apostadores adoecidos, seus familiares e a comunidade é ponto de suma relevância, para proteger esta população.
Dicas importantes!
Converse com os adolescentes sobre desvantagens de se envolver em atividades de risco como o jogo de azar.
Envolva pais e cuidadores, educadores e membros da comunidade em medidas de prevenção dos comportamentos de jogo.
Incentive os jovens a se envolverem em atividades sociais positivas, como clubes, esportes e outras atividades comunitárias.
Seja um modelo positivo.
Evite consumir e oferecer álcool, tabaco, drogas e jogos de azar, ou ficar horas no celular quando estiver com um adolescente.
Fale sobre o potencial do jogo para que ele se transforme em um problema.
Evite incentivar jogos de azar para menores de idade.
Monitore as atividades e os amigos dos jovens
Promova lazer estabeleça rotina e limites e APLIQUE...
Procure a ajuda de profissionais de saúde ESPECIALIZADOS em Transtorno do Jogo!
Psicóloga Mirella Martins de Castro Mariani
Coordenadora e Supervisora da equipe de TCC para TJ
Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP
Referências
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