Bondade, empatia e compaixão: será que é tudo a mesma coisa?
- Mirella Mariani

- 13 de jun. de 2024
- 6 min de leitura

Certamente você já deve ter observado, uma ou algumas das seguintes situações: alguém ajudando um idoso a pegar suas compras, quando o seu carrinho cai no chão; o chefe escutar opiniões e cuidar dos seus funcionários; alguém ceder seu lugar para uma mulher grávida na condução; um cliente ser educado com os trabalhadores do varejo; um amigo ser o primeiro a oferecer ajuda o outro no dia da sua mudança; um companheiro de trabalho abraçar o outro após seu projeto receber aprovação ou mesmo alguém apenas dar a passagem ou segurar uma bolsa pesada para outra pessoa que está com dificuldade.
Será que todas essas situações tem o mesmo significado? A sua resposta seria sim? E o que representam todas essas situações? Bondade, generosidade ou simplesmente educação?
Para responder a esses questionamentos, vamos recordar da celebre frase de Platão: “Seja gentil, pois todos que você conhece estão travando uma batalha mais difícil”.
De modo geral, cada pequena atitude ou comportamento que emitimos durante o dia ajuda a equilibrar as nossas emoções negativas, sendo possível assim ser gentil por razões práticas, sem qualquer motivação real pelo sofrimento do outro. Ou nos dão a possibilidade de apenas sermos educados ou gentis. Então, ou Platão confundiu os termos ou os antigos gregos utilizavam uma palavra para definir os diferentes conceitos.
Mas afinal, qual é a diferença?
BONDADE é um comportamento humano ou atributo marcado por características éticas e se caracteriza pela preocupação ou pela consideração com os outros. Pesquisas recentes ainda concluem que ela está relacionada a alguns fatores de bem-estar pessoal e características ligadas à felicidade que gera nas pessoas, sendo que esta conexão pode aumentar ao longo da vida e tende a ser maior com o passar dos anos (Fonte: Universidade de Zurich). Características comuns das pessoas bondosas foram identificadas pelos pesquisadores, sendo elas principalmente:
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GENEROSIDADE: quando ocorre a ativação de áreas cerebrais diretamente ligadas à felicidade. Além disso, a generosidade mostra íntima relação com o comportamento social, ou seja, a forma que nos relacionamos e a maneira que os outros nos enxergam.
AMABILIDADE: os pesquisadores constataram quando as pessoas são agradáveis passam a ser são reconhecidas também como confiáveis e cooperativas, nos momentos em que ajudam ao próximo. Afinal nada como uma boa companhia!
PACIÊNCIA: capacidade que nos permite lidar com as dificuldades de modo racional e tranquilo, buscando soluções para os problemas com planejamento e consequentemente com maior chance de encontrar e atingir consequências positivas reforçadoras. As pessoas pacientes são mais compreensivas e empáticas, o que lhes deixa mais aptas a fortalecer os laços afetivos e relacionamentos interpessoais.
REALISTA: um estudo demonstrou que indivíduos mais otimistas acabam se frustrando mais ao se deparar com uma quebra de expectativa, assim quem é bom tende a manter os pés no chão sendo mais feliz. Ao analisar as situações de forma clara e objetiva, sem se deixar levar por ilusões ou fantasias, é possível ter uma visão prática da realidade, reconhecendo os aspectos positivos e negativos e fazendo escolhas saudáveis. O que mais importa ter razão ou ser feliz?
EXTROVERSÃO: capacidade de rever os fatos antecedentes de maneira objetiva e segura, mantendo uma visão mais positiva do momento presente. Desta forma nossa energia psíquica é dirigida para fora e, assim, nos disponibilizamos, de modo proativo e confiante, nos adaptando ao ambiente, correspondendo à nossa necessidade de nos manter contato com o mundo exterior.
AUTOCONTROLE: permite a definição e o planejamento de metas pessoais tangíveis, facilitando a implementação de estratégias de enfrentamento mais adequadas e factíveis para os desafios diários. Visa o controle do próprio comportamento, de modo geral em situações conflituosas e acordo com padrões definidos pela sociedade (Martinelli & Sisto, 2006).
E por falar em fortalecer laços a partir da empatia, será que você sabe realmente o que significa o termo?
EMPATIA é uma competência de base neurobiológica, ou seja, requer capacidades cognitivas, emocionais, comportamentais e morais, para compreender e responder ao sofrimento dos outros. Absolutamente comum no jargão dos influencers, coachs, ou até mesmo, vulgarizada por celebritys de momento, a palavra que é fundamentalmente diferente de bondade ou compaixão, mas intimamente relacionada com ambas. Tem uma relação íntima com a percepção consciente que temos das emoções das outras pessoas, para compreender como elas se sentem.
Até aqui exatamente como nossos amiguinhos anteriormente citados costumam explicar, porém o conceito tem sua complementariedade no sentido de que, além de perceber a emoção e compreendê-la, é necessário que isso seja feito com o referencial da outra pessoa e nunca apenas com o seu.
Mas existem tipos diferentes de empatia?
A empatia geralmente ajuda a conectar as pessoas umas com as outras, pois desempenha um papel interpessoal e social crítico, ao permitir o compartilhamento de experiências, necessidades e desejos entre as pessoas, assim permitindo uma conexão emocional que promove o comportamento pró-social. Existem três tipos de empatia que são:
EMPATIA AFETIVA: é um processo encoberto, a capacidade que temos de compreender as emoções do outro e responder adequadamente, sempre usando as experiências dele como parâmetro. Justamente por esse motivo, essa compreensão emocional, que leva a nos preocuparmos com o bem-estar da outra pessoa pode gerar angústia pessoal, portanto, esse tipo de partilha emocional é mais comum em pessoas que estão evolutivamente programadas para reconhecer e responder às semelhantes percepções de base emocional, social ou cultural.
EMPATIA SOMÁTICA: a empatia somática é comportamental e aberta, promove uma resposta ou reação física em consequência ao que outra pessoa está vivenciando. Às vezes, as pessoas experimentam fisicamente o que outra pessoa está sentindo. Ao ver alguém se sentindo envergonhado, por exemplo, você pode começar a corar ou sentir dor de estômago.
EMPATIA COGNITIVA: também um processo encoberto, de compreender o estado mental de outra pessoa e o que ela pode estar pensando em resposta à situação, ou seja, consegue compreender como a outra pessoa vê o mundo. Isso está relacionado ao que os psicólogos chamam de teoria da mente. Um bom exemplo disso é: se você trabalha com pessoas de outro Estado faz muito tempo e absorveu o sotaque delas, está usando sua empatia cognitiva.
Está claro, que de maneira aberta ou encoberta a empatia é a capacidade que temos de sentir a dor da outra pessoa, mas o movimento que fazemos agindo para aliviar seu sofrimento é a Compaixão.
Como saber a diferença entre empatia e compaixão?
A palavra “compaixão” tem origem das palavras latinas “compati” e “compassio”, e ambas significam “sofrer com”.
COMPAIXÃO é uma resposta emocional à empatia criando em nós um desejo de ajudar. Ela não pode existir sem a empatia, pois fazem parte do mesmo continuum de percepção e resposta comportamental, movendo os seres humanos para agir visando o alívio do sofrimento de outras pessoas. Pessoas compassivas procuram demonstrar amor incondicional por aqueles que as rodeiam e buscam ativamente encontrar oportunidades para aliviar a angústia ou a tristeza dos outros.
Pesquisas indicam que a Compaixão indica traz benefícios imediatos à saúde tanto para quem dá quanto para quem recebe, impacta positivamente os resultados dos relacionamentos e melhora a resiliência no contexto de ameaça de adversidade. Em muitos contextos, pensa-se que a compaixão pode ser treinada como uma habilidade em si ou que seja emergente de habilidades subjacentes que podem ser cultivadas, mas sempre envolvendo componentes afetivos, cognitivos e motivacionais.
Alguns pontos interessantes que devem ser considerados:
Sentir x Agir: A neurociência indica que sentimentos de bondade, empatia e compaixão e empatia levam à ativação de regiões cerebrais como o córtex pré-frontal e o nervo vago. Porém, diferentes áreas do cérebro se iluminam quando você está apenas experimentando empatia, em vez de se esforçar para realizar uma atividade de cuidado.
Reflexo x Escolher: Para experimentar plenamente a compaixão, você deve fazer uma escolha, mas no caso da empatia existe uma resposta emocional reflexiva. Ou seja, a compaixão é mais uma prática, enquanto a empatia pode ocorrer independentemente de você cultivá-la ou não.
Angústia x Atenção plena: A compaixão vem de um estado mais calmo e atento do que a empatia pura pode permitir. A compaixão permite que você vivencie profundamente o sofrimento de alguém sem perder a autoconsciência e estabilidade, enquanto na empatia pode ocorrer tanta dor e angústia emocional quanto à da outra pessoa.
Dicas importantes do que observar para praticar:
Cada dia apresenta novas oportunidades para praticar a compaixão. Aqui estão cinco maneiras de mostrar compaixão em sua vida diária:
Trabalhe em direção ao bem maior;
Ouça aqueles ao seu redor;
Comunique o que for necessário com respeito;
Pratique atos de bondade;
Pratique a meditação;
Cuide de você!
Ninguém escolhe ser: bondoso, empático ou compassivo, estas emoções são genuínas. Quando o sofrimento ou a veracidade da intenção ocorre e alguém invalida ou escolhe como e para quem dirigir estas emoções, fique atento, pois certamente não está lidando com alguém honesto, mas sim com algo que falaremos em nosso próximo texto, uma falha de caráter.
Psicóloga Mirella Mariani
REFERÊNCIAS:
Martinelli, S. C., & Sisto, F. F. (2006). Escalas Feminina e Masculina de Autocontrole São Paulo: Vetor.
Decety, J. Dissecando os mecanismos neurais que medeiam a empatia . Revisão de emoções . 2011; 3(1): 92-108.
Riess H. The Science of Empathy. J Patient Exp. 2017 Jun;4(2):74-77.
Mascaro JS, Florian MP, Ash MJ, Palmer PK, Frazier T, Condon P, Raison C. Ways of Knowing Compassion: How Do We Come to Know, Understand, and Measure Compassion When We See It? Front Psychol. 2020 Oct 2;11:547241.




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